sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cimbres: 250 Anos Uma vila aldeia que enaltece o povo Xucuru de Ororubá

 
Nos primórdios, a região onde hoje fica a vila de Cimbres e a cidade de Pesqueira era ocupada pela tribo chamada de Ararobá. Depois sua ocupação passou para a tribo Xukuru. Dos Ararobás ficou apenas o nome da serra. Nos arredores viviam os Paratiós, de outra tribo. Estes foram os primeiros donos das terras nas quais vivemos hoje.
Em 1654 João Fernandes Vieira ganhou da Coroa portuguesa um sem mundo de terras, inclusive as ocupadas pelas tribos citadas. Em 1666 mandou seu feitor Manuel Caldeira ocupá-las1. Era o início da entrada da população branca na região. Na mesma época, ainda na segunda metade do século XVII, o padre oratoriano João Duarte do Sacramento fundou a missão de Ararobá junto aos Xukurus e deu o nome de Monte Alegre ao lugar que, progredindo rápido, em 1692 virou sede de freguesia2. No ano anterior, comprovadamente, Monte Alegre era também sede de capitania3 e, em 1762, alcançou o ápice da política administrativa sendo elevada a vila e sede de município, que passou então a ser chamado de Cimbres. Foi um 3 de abril que ficou na história. O ouvidor de Alagoas, dr. Manuel Gouveia Alvares, foi o encarregado de sua instalação. Dias antes foi fixado o edital num mastro convocando todos os moradores para a solenidade. Hoje, graças ao heroísmo de José Florêncio Neto, que o salvou de uma enchente no arquivo da Prefeitura, temos o Livro da Criação da Vila de Cimbres, onde foram registados importantes documentos sobre a vila com datas desde 1755 até 1867, inclusive a ata de instalação. É uma coleção de fontes primárias de pesquisa de valor tão grande que não conseguimos medir. Nela consta inclusive detalhes sobre a construção da casa de câmara, cadeia e ouvidoria, preciosa descrição.
Cimbres durante muitos anos foi o único lugar organizadamente habitado da região, o único centro político do Sertão, terra de autoridades políticas e militares. No entanto a força de um lugarejo três léguas abaixo da serra do Ararobá foi maior. Essa força nasceu da ambição de um homem, um autêntico sertanejo da ribeira do Moxotó: Manuel José de Siqueira. Sua fazenda em 1836 já tinha progredido tanto que acabou arrastando a sede do município de Cimbres serra abaixo. Foi naquele ano que a antiga vila começou a trilhar o caminho rumo ao esquecimento. Da época áurea restou apenas a igreja de Nossa Senhora das Montanhas, que funciona plenamente desde sua construção, mesmo depois da criação da freguesia de Santa Águeda em 1870, esta na então vila de Pesqueira. Como símbolo da política e do poder restou o acanhado prédio do Senado, relíquia da época da colônia, hoje em mau estado, em nada lembrando o auge da sua importância.
Atualmente Cimbres está quieta, num silêncio que apenas as coisas mortas têm. Sua história encontra-se esquecida pela maioria. Para estes o lugar não passa de um ponto no caminho entre Pesqueira e o santuário do sítio Guarda: fato triste e lamentável. Mesmo assim sua arquitetura continua resistindo ao tempo, muitas casinhas dos séculos XVIII e XIX ainda resistem de pé, no entanto passando despercebidas.
Hoje contamos 250 anos desde aquele 3 de abril de 1762. São dois séculos e meio do município de Cimbres, são dois séculos e meio do município de Pesqueira, que é na verdade o de Cimbres que em 1836 mudou de endereço e em 1913 mudou de nome4. Hoje devia haver uma grande comemoração, mas creio que será um dia como outro qualquer. Creio também que a maior parte das pessoas nem saibam desse 3 de abril, pois é data que não consta no calendário do atual município.
Seja como for, Cimbres, eu te reverencio.

Por Oliveira do Nascimento